A Brasil foi revelado ao mundo pelas Terras da Bahia e as Terras da Bahia revelaram ao Brasil as manifestações iniciais da Sublime Ordem. As crônicas maçônicas e os pesquisadores da ciência maçônica indicam ter sido a Bahia a primogênita das atividades Maçônicas do Brasil. Este feito, é presente na memória secular dos maçons que lembram de ter sido fundada a Primeira Loja Maçônica do Brasil, a Loja “Cavaleiros da Luz”, em águas territoriais da Bahia no ano de 1797, dentro da Fragata francesa La Preneuse comandada pelo Capitão Larcher, fundeada ao largo da Baia de Todos os Santos.
Esses tempos prenunciavam as lutas pelas liberdades e os homens, em todo o globo, buscavam a sua implementação. A Europa via perecer o sonho dos revolucionários franceses e iniciava a era napoleônico. Os americanos do Norte uniam seus Estados Independentes na sua vitoriosa Guerra de Independência toda ela estabelecida sob os princípios maçônicos, e os soteropolitanos agitavam suas noites em reuniões no interior da Fragata Francesa. Esses encontros noturnos e frequentes cuidavam de reunir os cidadãos notáveis da população soteropolitana, seres ilustrados influenciadores, formadores de opiniões e integrados à sua comunidade com forte influência política e econômica em toda Colônia, arregimentados entre os comerciantes, de vários setores incluindo de vestimenta, entre os advogados, os professores, os médicos, os construtores, os religiosos, militares, escritores, redatores, funcionários da Coroa, trabalhadores e intelectuais, homens de bons princípios alguns iniciados nos Sublimes Mistérios, que incutiram, naquele grupo pioneiro, as sementes dos princípios de Liberdade, Igualdade e Fraternidade.
Este contingente de gentios e maçons, conforme relata Borges de Barros, Diretor do Arquivos Público da Bahia, entregaram-se as longas discussões, na Fragata Francesa e delas fez-se surgir, no dia 14 de julho de 1797 a Loja Maçônica “Cavaleiros da Luz”, que foi, posteriormente transferida para a povoação da Barra, na cidade de Salvador. Os maçons, fundadores e frequentadores da Loja “Cavaleiros da Luz”, ensejaram, também, a “Conjuração Baiana” no ano de 1798, conhecida como a “Revolta dos Alfaiates” por causa das profissões dos seus principais líderes maçons. No ano de 1802 surge, também na Bahia a Loja “Virtude e Razão” que logo adormeceu sendo reerguida em 03 de março de 1807, dando um novo ânimo para a Maçonaria no Brasil, com o nome de Loja “Virtude e Razão Restaurada”. É notável os trabalhos realizados pelos valorosos maçons da Bahia, que atuaram com afinco, com entusiasmo, com estoicismo, humildade, amor, sustentados pelas noções virtuosas emanadas dos princípios da Sublime Ordem. Os maçons da Bahia demonstraram que a Maçonaria Baiana está sempre pronta a lutar, como fez e assim fará, para transpor todas as barreiras que possam separá-las da formação de uma prática e vivência ética e moral, fazendo-se Grande e Respeitada, e enchendo de orgulho seus filhos. A Maçonaria e a nossa Grande Potência Baiana ofertaram e ofertam à cada um de nós maçons, a régua, o esquadro e o compasso, que estão a nos indicar, a sabedoria, com a qual devemos seguir nossos caminhos construindo-nos interiormente com retidão; a segurança de estarmos jungidos à nossa Terra, nosso porto seguro e a certeza de que temos nossa mente, alinhada à espiritualidade, que é presente em cada um de nós. E isto nos honra, e isto nos enche de orgulho e nos dá a certeza de que nenhum patrimônio é tão rico e nenhuma lição é tão bela, quanto a herança que recebemos daqueles que nos antecederam, e que nos dão a certeza de que, caso os maçons queiram ser dignos de si mesmos, haverão de serem antes, dignos de nossa rica herança espelhada na história e na memória da formação do nosso Grande Oriente do Brasil (GOB) e do nosso Grande Oriente do Brasil – Baiano (GOB-Baiano). Pois vivemos os novos tempos de mansidão e harmonia, em sua essência e em sua eternidade possível.
Podemos considerar que a história e a memória da Maçonaria Brasileira se confundem com a história e a memória do Brasil. Assim, o sec. XIX emerge trazendo em seu bojo todas as possibilidades de avanços, todos elas permeadas pelos princípios da Sublime Ordem praticados em Lojas, que foram sendo criadas nas Províncias Brasileira. No Rio de Janeiro é criada a primeiro Loja regular no ano de 1801, Loja “Reunião’, e que era filiada ao Oriente de Ille de France. No ano de 1803, o Grande Oriente Lusitano cria Lojas regulares no Rio de Janeiro a ele filiadas, como a Loja “Constância” e a Loja “Filantropia”, que unidas à Loja “Reunião” mantinham congregados os maçons do Rio de Janeiro promovendo iniciações, elevações e exaltações. As crônicas maçônicas relatam ter sido comum encontrar indícios de existência de agremiações, nos séculos XVIII que seguiam um modelo maçônico formando agrupamentos secretos, mas que apresentavam o caráter de clubes e de academias. Neste período Colonial os governantes eram instruídos pelas Cortes a impedir o funcionamento de Lojas Maçônicas no Brasil, assim as Lojas “Constância e Filantropia”, no Rio de Janeiro, “foram fechadas” o que fez adormecer as atividades maçônicas na Corte, ao mesmo tempo em que ocorria uma expansão da Ordem em Terras das províncias da Bahia e Pernambuco. A Maçonaria brasileira passou a funcionar, então, de forma velada polarizando os “descontentamentos políticos”, organizando, coordenando, mobilizando ações e emprestando a sua organização para a causa da Independência do jugo Português.
Mesmo proibida na Colônia, a Maçonaria manteve de forma velada seus trabalhos, nas Lojas existentes na Corte preparando a criação da sua Obediência. E Lojas como a de “São João de Bragança”, “Loja Beneficência”, seguida da Loja “Comércio e Arte” não se filiaram ao Grande Oriente Lusitano e francês, mantiveram seus membros independentes prontos a criarem a Obediência brasileira. Alguns fatos políticos ocorridos, no período, apressaram a criação do Grande Oriente como a eclosão da “Revolução Pernambucana e da Conspiração Liberal de Lisboa” no ano de 1817. Essas revoluções eram lideradas por maçons e provocou reações do sistema como a “expedição do draconiano Alvará de 30 de março de 1818” que proibia o “funcionamento das sociedades secretas”. Cria-se, no Rio de Janeiro, o “Clube da Resistencia” e os movimentos nacionais, capitaneados por maçons, mobilizaram a população em busca de mudanças. Os eventos seguidos e que vinham ocorrendo nas Metrópoles, como Revolução Liberal do Porto ou Revolução Constitucionalista, em 1820, exigindo o retorno de Rei Dom João VI à Portugal; a Revolução na Espanha que questionava o poder dos “Estados Absolutistas na Península Ibérica”, vão encontrar no Brasil solo fértil. As necessidades de mudanças passaram a fazer parte do ideário dos maçons, da inteligência brasileira e certamente da população geral, que culminou com a Declaração de Independência feito pela Princesa Regente Dona Leopoldina, sob o auspício das lideranças maçônicas representadas por José Bonifácio de Andrada e Silva, Joaquim Gonçalves Ledo e outros, e referendada pelo Príncipe Regente Dom Pedro I, no dia 7 de setembro de 1822 às margens do riacho do Ipiranga na Província de São Paulo de Piratininga.
A criação do Grande Oriente ocorreu, historicamente e na sua última fase, com a divisão da Loja Primaz do Brasil “Comércio e Artes” em três Lojas a “”Comércio e Arte”; a “União e Tranquilidade” e a “Esperança de Nichtheroy” que formaram o Grande Oriente Brasílico ou Brasiliano, no dia 17 de junho de 1822. Criado, o Grande Oriente Brasílico associa-se à “instituição paramaçônica” fundada por José Bonifácio o “Apostolado da Nobre Ordem dos Cavaleiros da Santa Cruz”, ou apenas “Apostolado” forjando lideranças, nascidas dos embates naturais que permeiam as ações dos homens de boa índole, criadores dos avanços sociais e defensores das liberdades e que tiveram papel importantes na história da Nação Brasileira e no desenvolvimento histórico da Maçonaria, espelhados nas ações de Bonifácio e Ledo.
No ano de 1831 com a abdicação de Dom Pedro I ao Trono Brasileiro em favor de seu filho o Príncipe Dom Pedro de Alcântara, a Maçonaria Brasileira toma força e vigor e os seus líderes históricos do Grande Oriente Brasílico, fazem surgir de forma definitiva o Grande Oriente do Brasil, o GOB. Novas Lojas Maçônicas são criadas nas Províncias, o número de Irmãos crescem com participação ativa, dos maçons, homens de alto espirito público estabelecidos na sociedade com influência marcante sem seus meios e verdadeiros orientadores educacionais, que foram protagonistas das “campanhas sociais e cívicas da nação”, como a abolição da escravatura e a implantação da república, com a presença do Marechal Deodoro da Fonseca, um dos Grão-Mestre do Grande Oriente do Brasil, sempre seguindo os princípios maçônicos amparado pelos Landmarks.
As crônicas maçônicas informam, ter sido o Marechal Deodoro da Fonseca eleito no dia 19 de dezembro de 1889 como Grão-Mestre do Grande Oriente do Brasil, empossado em 24 de março de 1890 renunciando ao seu cargo no dia 18 de dezembro de 1891. Assume, então, o Grande Oriente do Brasil o Ministro do Supremo Tribunal Federal e Conselheiro Antônio Joaquim de Macedo Soares, que cria o Sistema Federativo do GOB, similar ao sistema adotado pela recém-criada república e promulga a tão esperada Constituição Maçônica, em 1892. A Constituição do GOB de 1892, previa a criação de Grandes Lojas Estaduais que seriam federadas ao Grande Oriente do Brasil (GOB), no intuito de contribuir com a formação da sua estrutura administrativa. O final do séc. XIX vê ser estabelecidas as Normas Constitucionais Maçônicas para a criação e instalação dos Grandes Orientes Estaduais, e a Bahia, imbuída da vontade da sua comunidade maçônica e de forma pioneira, pontuou como um dos primeiros Estados da Federação a criar e instalar seu Grande Oriente Estadual, isto feito no dia 07 de março de 1892, seguindo os ditames do Grande Oriente do Brasil (GOB); e o Estado de São Paulo, no dia 14 de maio de 1892, segue os passos da Maçonaria baiana e as determinações da Constituição do Grande Oriente do Brasil e cria sua Grande Loja Estadual. Assim, criada em 07 de março de 1892 a Grande Loja do Estado da Bahia teve sua Cerimônia de Instalação efetuada em 14 de maio de 1893 e sete anos à frente, na virada do século, em 6 de agosto de 1900, sua Grande Loja Estadual é extinta. A extinção da Grande Loja do Estado da Bahia decorreu da dissidência das Lojas baianas que, em 7 de março de 1900, houveram por bem fundar o “espúrio Grande Oriente Autônomo da Bahia” separando-se do Grande Oriente do Brasil. Refeito o caos, a Bahia retorna ao GOB para assistir, no ano de 1927 junto com os maçons brasileiros a lamentável ocorrência que abalou a unidade Maçônica no seio da Maçonaria Brasileira, com consequências contundentes para todas as unidades federativas. Ocorre o chamado grande “cisma” que quebra a hegemonia e a unidade do GOB, divide os Irmãos maçons e cria novas Potências, algumas sem o devido reconhecimento. Esta é uma parte importante da história e da memória da Maçonaria Brasileira que deve ser objeto de estudo crítico e sistemático de todos os maçons brasileiros, no intuito de compreender os caminhos da Sublime Ordem em nossa Terra. E, no entanto, o grande “cisma” vem acompanhado da implantação da ditadura do “Estado Novo” por Getúlio Vargas, que pratica ações de poder que não coadunam com os ideais e princípios Maçônicos. O “Estado Novo” move perseguição aos maçons, fecha grande parte das Lojas Maçônicas, inclusive na Bahia, que já combalida pelo grande “cisma” de 1927 vê retardar a recomposição da Maçonaria em seu Estado.
Os anos de 1950 chegam e trazem alento à nossa Sublime Ordem que vê crescer, com denodo e entusiasmo, a Maçonaria Baiana com a fundação de Lojas no interior do Estado e na Capital. Em seis anos, a Bahia passa a contar com número expressivo de Lojas e número crescente de Irmãos, o que possibilita a re-fundação necessária do Grande Oriente Estadual da Bahia, pois, é sabido que até o ano de1956 todos os “documentos de admissão, os breves constitutivos, os diplomas e as medalhas eram concedidos pelo Poder Central”, sem autonomia da Maçonaria Baiana. Conforme relatam os Irmãos Carlos Eugenio Rangel, Alencastro e Raimundo Moreira (sic), a primeira reunião pró-fundação do Grande Oriente Estadual da Bahia ocorre em 10 de setembro de 1960. Esta reunião teve lugar no segundo andar do prédio número 4 da Praça Castro Alves, e ela ganha foros de Assembleia Geral, passa a receber contribuições dos Irmãos sobre as formas de constituição do novo Grande Oriente do Estado, procede a eleição para os cargos e após longa discussão a Assembleia decide pela fundação de um novo Grande Oriente Estadual, reconhecido como GOEB. A Maçonaria Baiana avança, cresce com força e vigor e chega ao ano de 2023 imbuída da missão de fazer prevalecer para a Maçonaria Baiana os princípios da Maçonaria Universal estabelecidos pelos seus Landmarks, pela tradição que induz ao respeito pela modernidade sem perder de vistas o que nos mantém unidos e eternos em nossos atos maçônicos, pela prática do amparo aos que mais necessitam, pela atenção na promoção dos saberes, exaltando o que é humano e compreendendo que a Igualdade se faz necessária para o alcance de todas as formas de Liberdade e para a emergência da Fraternidade entre os homens. E a Maçonaria Baiana chega ao ano de 2023 materializando o Grande Oriente Estadual do Brasil – Baiano, nosso GOB-BAIANO marcando o dia 23 de maio de 2023 como o dia da sua Fundação e o dia 26 de julho de 2023 como o dia de sua Instalação quando foi-lhe entregue a sua Carta Constitutiva outorgada pelo Grande Oriente do Brasil (GOB) na presença das suas Lojas fundadoras e dos Irmãos da Maçonaria Baiana.
A história e a memória da Maçonaria Brasileira e Baiana continuam pungente e marcante, unidas e atuantes e receberam o séc. XXI com a promessa de construção de uma Nação livre e igualitária, de uma Maçonaria imbuída dos seus princípios éticos e morais. Nos seus longos caminhos trilhados demarcaram posições, criaram laços, demonstraram arrojo e não titubearam em assumir posições que a fizeram crescer e se constituir como tal, progressista voltada a defesa das Liberdades, propugnando a Igualdade e estabelecendo a Fraternidade entre os seus cidadãos, como modelo de vida.
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